quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
106-O que é a sociedade civil
Depois de assinalar o que não é a sociedade civil, se torna necessário assinalar
o que ela é e começaremos definindo-a como o conjunto de organizações diversas
que se mantêm independentes do Estado, com o qual se resgata o conceito residual
de que sociedade civil é tudo que não é Estado. Da definição anterior se extraem
três características essenciais e uma premissa. Vejamos com mais detalhes:
Sua diversidade
Dentro da sociedade civil entram todas as organizações sociais que podem
surgir ao redor de temas diversos como a economia, a cultura, as reivindicações
sociais, a religião, o esporte, a produção, o conhecimento etc. A solidez da sociedade
civil está na sua diversidade; toda intenção de homogeneizá-la, classificá-la ou limitá-
la atenta contra sua natureza.
Sua independência do Estado
Uma característica essencial da sociedade civil é sua independência do Estado,
o que não significa seu confrontamento permanente ou sua identificação
como inimigo. Simplesmente implica que ela se move e deve mover-se no âmbito
civil, concebido este como o não-estatal, no qual atua obedecendo a uma lógica
que é substancialmente diferente daquela do Estado, ainda que exista coincidência
em torno de temas, aspirações ou preocupações. A diferença é similar à diferença
entre governantes e governados, mas vai além, ao mencionar que as pessoas que
pertencem às diferentes organizações sociais têm unicamente o poder de influir
na tomada dessas decisões, poder que até agora tinha sido pouco exercido.
Sua independência dos partidos políticos
Os partidos políticos ocupam uma posição intermediária entre o Estado
e a
sociedade civil; têm um pé naquele e outro nesta; não são parte do Estado, porém
aspiram ser parte dele, razão pela qual possuem uma lógica diferente da sociedade
civil e diferente das pessoas que ocupam o Estado. Por isso, ainda que se identifiquem
com a sociedade civil em algumas questões
pontuais, se distanciam dela em
assuntos mais fundamentais. Com os partidos políticos, assim como com o Estado,
existem possibilidades de coincidências, associações específicas e trabalho conjunto;
porém não existe nem pode existir uma total identificação.
A cidadania como premissa básica
A beligerância da sociedade civil vai de mãos dadas com o processo de construção
de cidadania, conceito absorvido do âmbito jurídico e colocado
no âmbito
sociocultural como consciência de direitos e obrigações,
e da responsabilidade para
assumi-los e exigir que sejam respeitados pelo Estado, pelos partidos políticos e
pelas mesmas organizações da sociedade civil.
É a consciência cidadã que motiva a sociedade a mover-se, a assumir o
público como seu próprio, a exigir respeito do Estado e dos partidos políticos,
a fiscalizar e controlar o desempenho público e a exigir prestação de contas dos
funcionários. Também se relaciona com a necessidade de realizar trocas culturais
substanciais em todos os âmbitos, particularmente no político,
ou seja, a necessidade
de mudar valores, crenças e atitudes diante do estatal, diante do público,
diante da relação Estado-sociedade civil e diante da relação Estado-partidos políticos,
o que supõe a erradicação de percepções
ideológicas que os identificavam
no passado autoritário como inimigos irreconciliáveis, diante das quais não havia
sequer a possibilidade de diálogo.
Vista desde suas características essenciais e desde sua premissa fundamental,
a sociedade civil deve definir-se em sua dimensão real e fática, o que nos leva a
perguntar: Quem são os que formam a sociedade civil? Onde está a sociedade
civil? Para responder a essas perguntas diremos que ela é formada essencialmente
por três grandes grupos:
Os grupos, classes ou setores sociais
Aqui entram os chamados velhos e novos atores sociais; essa distinção
cronológica se refere ao momento histórico em que aparecem como atores no
cenário público, mais que ao momento em que surgem como grupos, classes e
setores. Os velhos atores, por exemplo, incluem os operários, empresários,
camponeses,
professores, estudantes, cooperativistas e habitantes urbanos; em troca,
os novos atores incluem as mulheres, jovens, ecologistas, etnias, jornalistas, vizinhos,
terceira idade, donas de casa, familiares de desaparecidos,
acadêmicos,
desportistas etc. Neste segmento da sociedade civil entram todos os grupos sociais
que se unem de maneira conjuntural ou permanente
para lutar por seus
direitos ou pelos interesses nacionais, sempre e quando mantenham as características
assinaladas anteriormente.
As ONGs
Aqui se agrupam todas as organizações não-governamentais que trabalham
temas diversos como os direitos humanos, direitos de grupos vulneráveis, cultura
política, cidadania, crédito agrícola, medicina alternativa,
assistência técnica, capacitação,
educação, alfabetização etc. Estas organizações trabalham com assistência
externa e impulsionam ações alternativas,
complementares ou substitutivas da ação
estatal, o que lhes permite manter sua independência do Estado.
As igrejas
Também formam parte da sociedade civil em todas suas denominações.
A classificação acima proposta é apenas uma aproximação ao que é a sociedade
civil, porque sua diversidade faz com que fiquem de fora de qualquer relação
muitas outras organizações cuja atividade se reduz a uma comunidade, uma
colônia ou uma vizinhança. O fato de agrupá-las no conceito de sociedade
civil
não significa que todas sejam iguais e que não existam diferenças que as separem;
tampouco quer dizer que constituem o lado bom da relação Estado/
sociedade
civil, pois muitos dos vícios que os políticos trazem ao Estado se encontram também
nas diversas organizações sociais que a formam. Trata-se, simplesmente, de
organizações sociais que reivindicam o social, exigem a atenção do Estado, planejam
políticas mais justas e demandam comportamento
democrático dos funcionários
públicos e dos partidos políticos.
Referências:
Educação Popular na América Latina: diálogos e perspectivas / Pedro Pontual, Timothy Ireland
(organizadores). – Brasília : Ministério da Educação : UNESCO, 2006. Capítulo I – A Sociedade Civil O Papel da Sociedade Civil na Construção da DemocraciaLeticia Salomón**O Papel da Sociedade Civil na Construção da Democracia* p- 24 e 25 CNSA 2009.
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