domingo, 9 de maio de 2010

Grécia: Problema não é só dívida pública‏

A crise na Europa ganha dimensões mais inquietantes com o reconhecimento, por grande parte do mercado, de que o problema na região não é só de endividamento público. O comentário é de Fernando Canzian e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 07-05-2010. Esse pode ser o maior problema da Grécia. Mas, para outros países listados como "problemáticos", é a soma do endividamento do setor público com o privado (de empresas e bancos) que faz a crise ser grande. Enquanto a dívida pública grega como proporção do PIB (relação que determina a capacidade ou não de honrá-la) é maior do que a de Portugal e Espanha, a história é diferente quando considerados o endividamento privado de todos. As dívidas totais de Portugal (pública e privada) equivalem a 236% do PIB português. No caso da Espanha, a 342% do PIB espanhol. Na Grécia, essa proporção é bem menor, de 195%. Isso significa que a solvência de outros países na comparação com a Grécia pode se tornar mais complicada com o tempo. O motivo é que os três países (mais a Irlanda) terão em comum crescimento baixo ou negativo neste ano (-3% na Grécia e -0,5% na Espanha, por exemplo). Ficarão aquém da magra média europeia, abaixo de 1%. Isso quer dizer que estão fadados a ter uma relação entre o tamanho das dívidas (que cresce com juros cada vez mais altos) e PIB (que encolhe) ainda maior ao final de 2010 e além. Se já há receio em relação às dificuldades desses países em honrar suas dívidas hoje, essa percepção só tende a piorar. É isso o que o mercado antecipou ontem quando se desfez em massa de ações de empresas e bancos na Europa e nos EUA. O outro aspecto grave da crise é a enorme exposição do sistema bancário mundial a dívidas privadas e públicas dos "problemáticos" Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda. Segundo o BIS (Bank for International Settlements), os setores público e privado desses países devem US$ 2 trilhões a bancos dentro e fora da Europa. Em recessão e com alto desemprego, não é difícil prever empresas e governos faturando e arrecadando menos, o que pode agravar a dívida. Os EUA enfrentaram problema semelhante em 2009. Lá, o Fed (BC) assumiu 100% da rolagem das dívidas de empresas e do Tesouro, que estavam virtualmente quebrados. Se o BC europeu fizer o mesmo, a conta recairá sobre a Alemanha e a França. Isso pode ser politicamente inaceitável. Já uma onda de calotes ou de aumento de juros para rolar dívidas poderá ter reflexos ainda maiores nos países "problemáticos" e além de suas fronteiras.

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