sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

126- Como votar em um parlamentar que não se corrompa

"Já dizia Bezerra da Silva: 'Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem'” Thiago Carneiro * O brasileiro parece sempre se arrepender dos políticos que elegeu. Já está tão combalido que acorda relutantemente naquele fatídico domingo de outubro em que tem que escolher a próxima "trupe" que vai governar e fazer as leis. "Afinal, de que adianta? Não importa os políticos que escolhemos, sempre haverá escândalos nas manchetes no ano que vem..." Sei que o título do artigo chamou sua atenção. Sinto desapontá-lo(a), mas a fórmula mágica não existe. Usei esse título chamativo para convidar você para uma reflexão que poucos eleitores fazem, especialmente aqueles com síndrome de arrependimento pós-eleitoral. Em primeiro lugar, acostume-se com a ideia de que é muito pouco "fiscalizar" os desvios de verba pública pelas seções de política dos jornais. É muito importante ficar atento à corrupção, mas isso não nos deve cegar para o que mais interessa: o que o político vai realmente fazer com o mandato que lhe foi concedido. Passamos mais tempo preocupados com os corruptos do que com aqueles políticos que querem fazer um trabalho sério. "O quê? Existem políticos que querem fazer um trabalho sério?!?" Pois é, existem. O Prêmio Congresso em Foco está aí para dar-lhe uma amostra. Foram agraciados os parlamentares federais mais atuantes, na visão de jornalistas e de internautas. Você conhecia algum deles? Você provavelmente já votou em algum político atuante, mas talvez não se lembre dele. Ou então não acompanhou a trajetória que ele seguiu depois de ganhar seu voto. Ops... peguei pesado, não é? Mas faça um exame de consciência. Que políticos você mais de perto acompanhou, desde as últimas eleições? Aqueles em que você votou ou aqueles que apareciam nas manchetes de corrupção? O que quero dizer é que não podemos nos ater às manchetes de corrupção e deixar de lado as discussões que mais interessam. Por exemplo, você conhece o posicionamento daquele parlamentar que você elegeu sobre temas polêmicos, como legalização do aborto, criação da Petrosal, redução de jornada de trabalho ou a PEC 471/05 (PEC dos Cartórios)? Considerando que ele é seu representante – ou seja, é praticamente a sua voz no Congresso Nacional –, está representando você a contento? Então... temos o mau hábito de julgar simploriamente o comportamento dos políticos, carimbando de "corruptos" os que se metem em maracutaias e... esquecendo os demais. Assim é relativamente fácil identificar em quem não devemos votar; afinal, não faltam manchetes para nos dizer os nomes a serem evitados. Mas não basta se lembrar do político corrupto. É preciso se lembrar também do político atuante. Acostume-se com esta expressão: político atuante. É assim que chamamos aqueles que fazem jus à causa e à ideologia que defendem, acreditam nas bandeiras que ostentam, valorizando cada voto recebido. Esses pouco aparecem na televisão ou nos grandes jornais (afinal, a maior parte da mídia cobre quase exclusivamente os escândalos). É preciso pesquisar para saber o que o bom político anda fazendo - e a internet ajuda bastante. Que tal fazer uma busca com o nome dos políticos nos quais você votou? Agora, que tal começarmos a nos preparar para as eleições de 2010, avaliando a atuação política daqueles que elegemos, para decidir, sabidamente, se eles merecem se reeleger? Podemos fazer o mesmo conhecendo a trajetória daqueles que estão fazendo sua escalada política - começam como vereadores, passam a deputados estaduais, secretário disto ou daquilo, prefeito, deputado federal, ministro, governador, senador... Sabemos muito sobre nossos políticos olhando para o passado deles. E precisamos observar mais e valorizar o político atuante. Assim, talvez até os outros se preocupam mais em mostrar serviço, nem que seja por "invejinha". Já dizia Bezerra da Silva: “Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”. Quanto a eleger parlamentares que não se corrompem? Pois é, não tem nenhuma fórmula mesmo não. Mas não votar naqueles que já se envolveram com alguma falcatrua é um bom começo. O problema é que fazer isso é ainda muito pouco. A urna é o lugar onde nasce o poder do eleitor; depois, é preciso exercê-lo. Permita-me reformular o título lá em cima: Como fazer para que o deputado que você elegeu não se corrompa. Nos quatro anos entre uma eleicão e outra, muita coisa acontece. E se o eleitor não acompanha o trabalho do parlamentar, o caminho fica livre para quaisquer tipos de lobby, inclusive os inescrupulosos, desviá-lo dos seus compromissos de campanha. Por isso, não basta vigiar os políticos com as notícias que chegam diariamente às nossas casas. É bom saber como ele anda se posicionando sobre cada tema. Isso, sim, é fiscalizar se ele está exercendo bem o papel de representante. Afinal, você deu a ele o poder para fazer o que ele faz. * Mestre em Psicologia pela Universidade de Brasília, servidor da Câmara dos Deputados e uma pessoa empenhada em “encorajar a postura crítica do eleitor brasileiro, na expectativa de que assim se melhorem as instituições políticas do país”. http://congressoemfoco.ig.com.br/noticia.asp?Cod_Canal=4&Cod_Publicacao=31474

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