quarta-feira, 18 de agosto de 2010

6- Escola de Chicago – Donald Pierson;

A influência de Chicago no Brasil se efetivou com Donald Pierson, que foi o principal divulgador das teorias da Escola de Chicago. Donald Pierson e a escola sociológica de Chicago no Brasil: os estudos urbanos na cidade de São Paulo (1935-1950)1

Donald Pierson and the Sociological School of Chicago in Brazil: urban studies in the city of São Paulo (1935-1950)

Edgar S.G. Mendoza

Doutor em Ciências Sociais pela UNICAMP de São Paulo Brasil, Mestre em Antropologia Social pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador do Instituto de Investigaciones de la Escuela de Historia de la Universidad de San Carlos de Guatemala. Acadêmico de Número da Academia de Geografia e Historia de Guatemala e membro da Junta Diretiva de la Asociación Latinoamericana de Sociología -ALAS- período (2003-2005). E-mail: esgmendoza@yahoo.es


RESUMO

O artigo, em termos amplos, trata da influência de Donald Pierson, formado na Escola Sociológica de Chicago, que teve maior repercussão na pesquisa urbana no Brasil, nos anos 30 e 50, tanto na Sociologia quanto na Antropologia, na cidade de São Paulo. A pesquisa urbana no Brasil tanto sociológica quanto antropológica teve referenciais teóricos que deixaram sua marcas nos trabalhos da época. No meu argumento, se pensarmos nos campos científicos da Antropologia e da Sociologia Urbana no Brasil, uma das tendências teóricas em um momento histórico e teórico foi a Escola Sociológica de Chicago. Um resgate de pesquisas precursoras de estudos urbanos na cidade de São Paulo poderiam comprovar a influência da Escola de Chicago. Apesar de serem pesquisas isoladas, enfatizaram fortemente questões propriamente urbanas. Seria arriscado defini-las nesta época como uma Sociologia Urbana propriamente dita, em São Paulo. O motivo de trazê-las é demonstrar que realmente foram um antecedente dos estudos urbanos no Brasil, entre 1935-1950. Assim, posso dizer que a Sociologia da Escola de Chicago teve influência em três campos no Brasil: a) relações raciais (negros, brancos e imigrantes), b) estudos de comunidade (pequenas cidades rurais) e c) estudos na cidade (principalmente São Paulo). Portanto, estou pensando a cidade de São Paulo como um cenário em termos gerais, como uma agenda de pesquisa institucional nos anos 35-50. Entre as poucas e modestas pesquisas de Sociologia na cidade de São Paulo tomada como objeto de estudo, foi feita uma etnografia na cidade ou uma etnografia urbana diferente dos clássicos estudos de comunidades em pequenas cidades rurais. Temos inicialmente oito trabalhos que foram publicados principalmente como artigos em revistas, sendo o objeto de pesquisa alguns bairros da cidade ou em outras cidades. O ponto central do artigo está na ampla bibliografia que foi encontrada, e apresentada no final do texto sobre a influência da Escola de Chicago e sua repercussão no Brasil.

Palavras-chave: Donald Pierson, Escola Sociológica de Chicago, Sociologia urbana, Estudos urbanos na cidade de São Paulo, Etnografia urbana


ABSTRACT

This paper is an overview of the influence of Donald Pierson, formed in the Sociological School of Chicago, which had more repercussion on urban research in Brazil in the 1930s and 1950s, both within Sociology and Anthropology, in the city of São Paulo. Urban research in Brazil - both sociological and anthropological - had theoretical references that left their marks on the works of that time. According to my argument, regarding the scientific fields of anthropology and urban Sociology in Brazil, one of the theoretical trends in a certain historical and theoretical context was the Sociological School of Chicago. Revisiting pioneer urban studies in São Paulo could assert the influence of the School of Chicago. In spite of being isolated studies, they have strongly stressed properly urban issues. It would be risky to define them these days as Urban Sociology in its own right, in São Paulo. The reason for bringing them up is to demonstrate that they really represented antecedents to urban studies in Brazil between 1035-1950. Therefore, I can say that the sociology of the School of Chicago had its impact on three fields in Brazil: a) racial relations (blacks, whites, and immigrants); b) community studies (small rural towns); and c) studies in the city (especially in São Paulo). Therefore, I think of the city of São Paulo as a scenario in general terms, as an agenda for institutional research in 1935-1950. Among the few and modest sociology studies having the city of São Paulo as their object, an ethnography of the city or urban ethnography was conducted that was different from classic studies on communities or small rural towns. Initially, we have eight works published mainly as journal articles, and their research object was some neighborhoods in São Paulo or other cities. The main feature of the article is the extensive bibliography found and presented at the end of the text, about the impact of the Scholl of Chicago and its repercussion in Brazil.

Key words: Donald Pierson, Sociological School of Chicago, urban sociology, urban Studies in the city of São Paulo, urban ethnography


Sabemos que a cidade é o lugar de pesquisa dos estudos urbanos de vários campos científicos, entre eles os campos da Antropologia e Sociologia dedicados às pesquisas dos grupos sociais que moram na cidade. A pesquisa urbana no Brasil tanto sociológica quanto antropológica teve referenciais teóricos que deixaram sua influência nos trabalhos da época. No meu argumento, se pensarmos nos campos científicos da Antropologia e Sociologia Urbana no Brasil, as suas tendências teóricas foram influenciadas por três escolas de pensamento, em diferentes momentos históricos e teóricos, a Escola Sociológica de Chicago, a Escola Antropológica de Manchester, e a Escola Marxista Francesa de Sociologia Urbana, coexistindo simultaneamente suas produções intelectuais.

Este artigo, em termos amplos, trata da influência de Donald Pierson, formado na Escola Sociológica de Chicago, sobre a pesquisa urbana no Brasil nos anos 40 e 50, tanto na Sociologia quanto na Antropologia, na cidade de São Paulo.2 Em um segundo momento, realizo estudos precursores nessa mesma cidade, na década de 40-50, tomados como um antecedente dos campos da Sociologia e Antropologia Urbana no Brasil. Com este objetivo em mente, mergulhei em várias bibliotecas em busca de pesquisas que tratassem da cidade e comprovassem a influência da Escola de Chicago, com o objetivo de encontrar estudos precursores feitos antes da construção do campo científico da pesquisa urbana no Brasil nos anos 70. A importância do artigo radica na ampla bibliografia encontrada e apresentada no final do texto sobre a influência da Escola de Chicago e sua repercussão no Brasil.

Chicago em São Paulo: estudos precursores na cidade

Este tópico trata de um resgate de pesquisas precursoras de estudos urbanos na cidade de São Paulo, as quais sofreram influência da Escola de Chicago e que, apesar de serem pesquisas isoladas, enfatizaram questões propriamente urbanas. O motivo de trazê-las é demonstrar que realmente foram um antecedente dos estudos urbanos no Brasil entre 1940-1950. Proponho, então, que a Sociologia da Escola de Chicago teve influência em três campos no Brasil: a) relações raciais (negros, brancos e imigrantes),3 b) estudos de comunidade (pequenas cidades rurais)4 e c) estudos na cidade (principalmente São Paulo). Embora os três campos sejam importantes, darei ênfase ao campo dos estudos na cidade de São Paulo, como veremos mais adiante.

Depois da revoluções de 30 e 32, o clima intelectual e político mudou e trouxe transformações pricipalmente na educação superior. A institucionalização das Ciências Sociais no Brasil se expressou na fundação de instituições que contaram na sua estrutura de ensino com as disciplinas de Sociologia e Antropologia. A criação da Escola Livre de Sociologia e Política, fundada em 1933, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP e da cátedra de Antropologia Social na Universidade do Distrito Federal criada em 1935, foram iniciativas da "geração precursora" que institucionalizou o ensino superior da Sociologia e da Antropologia no Brasil.

A institucionalização das Ciências Sociais no Brasil foi a condição que permitiu o desenvolvimento do pensamento social nesse período. Nesta geração precursora, destaca-se Donald Pierson e seu livro, Brancos e pretos na Bahia escrito na cidade de Salvador entre 1935-37.5 O porquê da escolha? Na minha opinião, foi o primeiro trabalho com uma influência clara da Escola de Chicago no Brasil, que é o que me interessa na tese, com teoria, método de pesquisa de campo, etnografia e observação participante. Apesar de ter sido uma pesquisa de relações raciais e não da cidade de Salvador, a sua importância se deve ao fato de que inovou os estudos sociológicos no final da década de 30, principalmente em São Paulo.6

Apesar da amplitude de sua análise e dos temas analisados no livro, eu gostaria de enfatizar a metodologia de pesquisa de Pierson, centrando-me nas suas notas metodológicas.7 O procedimento de Pierson na pesquisa de campo é muito diverso, vejamos, então, dois pontos importantes:

a) Valendo-se da etnografia e da observação participante, ele fez uma descrição minuciosa da situação racial, analisou o número proporcional de indivíduos em contato, graus de prestígio, segregação racial e miscigenação, ocupações, vestuário, atitudes do grupo, função do mestiço na comunidade, participação de grupos sociais, ecologia, economia, política e sociologia das relações entre grupos, a consciência de raça, status, sentimentos grupais de segregação e formas culturais.

b) Com a observação participante, as técnicas de pesquisa de seleção de informantes principais (homens, mulheres, idade, etc.), técnicas de questionários, árvores genealógicas, entrevistas diretas, ele obteve, de primeira mão, dados importantes. O registro de rituais, casamentos, cerimônias, concertos musicais, acontecimentos esportivos, solenidades, festas populares, desfiles, abertura e encerramento de festas de escolas, igrejas, missas, homenagens, inaugurações, clubes, cinemas, recepções, congressos, carnavais, procissões, bibliotecas públicas e escolas, Pierson conseguiu ter uma idéia geral dessas situações temáticas. Alem disso, os seus estudos em arquivos históricos na procura de documentos, mapas da cidade, documentos pessoais (cartas), autobiografias, censos demográficos, histórias de vida, classificações (provérbios), jornais, bibliografias científicas, literatura popular (romances, poesias, contos etc.), permitiram-lhe reconstruir o passado de Salvador.

Pierson incorpora-se, em 1939, à Escola Livre de Sociologia e Política, criada em 1933 e, em 1941, cria a Divisão de Estudos Pós-Graduados,8 dando, assim, início à formação de alunos e discípulos através de aulas, seminários, conferências, traduções de livros e artigos, contatos com instituições, universidades e professores estrangeiros. O programa de Pierson incluía a ida de seus alunos ao exterior, como foi o caso de Mário Wagner Vieira da Cunha, Oracy Nogueira, Juares Brandão Lopes e Levy Cruz, para a Universidade de Chicago e outros, para diversas universidades, Esta foi uma maneira de treinar profissionais capacitados, mas, ao mesmo tempo, de reprodução e construção de uma maneira de fazer pesquisa no Brasil.

Um dos sociólogos e antropólogos brasileiros de destaque, no final dos anos 40 e décadas seguintes, foi Oracy Nogueira, que entre suas influências teóricas conta com Pierson e a Escola de Chicago.9 Nogueira estudou na Universidade de Chicago entre 1945-47, época em que a terceira geração, como Herbert Blumer e Everett Hughes,10 ensinava nessa universidade.

A influência de Chicago no Brasil se efetivou com Donald Pierson, que foi o principal divulgador das teorias da Escola de Chicago em São Paulo. Quais as características dessa influência? Pierson foi figura central e tinha seus seguidores; possuidor de forte personalidade e grande carisma como intelectual inovador com novas idéias, pontos de vista e orientações. Na Escola de Sociologia e Política, Pierson treinou várias gerações de pesquisadores. Está mais que demonstrada a influência da Escola de Chicago na Sociologia brasileira, e, como escrevi antes, está presente nos campos das relações raciais e nos clássicos estudos de comunidade, em pesquisas localizadas em áreas rurais. Contudo os estudos sobre comunidade não podem ser considerados como Sociologia Urbana, apesar de que tenham sido feitos alguns trabalhos sobre imigrantes, com o referencial teórico da assimilação e aculturação. A Escola de Chicago está presente nos estudos de comunidade, porém a falta de pesquisas na cidade é ressaltada. Voltando ao meu argumento do início do tópico quando me referi aos estudos precursores em São Paulo, defino-os como os efetuados em áreas urbanas na cidade. O que pretendo é verificar a hipótese da influência da Escola de Chicago principalmente na década de 40, em pesquisas concretas. Apesar de serem poucas, eram ao meu ver etnografias urbanas na cidade.11

Estudos urbanos em São Paulo

Portanto, estou pensando a cidade de São Paulo como um cenário em termos gerais, não como estudos, como uma agenda de pesquisa institucional nos anos 40-50. Seria arriscado defini-los nesta época como Sociologia Urbana propriamente dita em São Paulo,12 embora tenham sido realizados trabalhos demográficos como sobre o padrão de vida dos operários e sobre população étnica nessa cidade de São Paulo.13

Diferente dos trabalhos demográficos, entre as poucas e modestas pesquisas de Sociologia na cidade de São Paulo tomada como objeto de estudo, foi feita uma etnografia na cidade. As pesquisas que posteriormente analisarei foram escolhidas pelo fato de terem a influência da Escola de Chicago e terem sido realizadas na cidade de São Paulo, definindo-as como uma etnografia na cidade ou como uma etnografia urbana diferente dos clássicos estudos de comunidades em pequenas cidades rurais. Temos inicialmente oito trabalhos que foram publicados principalmente como artigos em revistas, sendo o objeto de pesquisa alguns bairros da cidade, ou outras cidades.

Em primeiro lugar, gostaria de começar com um trabalho de Lucila Hermann de 1938.14 A cidade de Guaratinguetá está localizada ao norte de São Paulo. Embora a pesquisa não tenha sido feita necessariamente na grande São Paulo, a tentativa de fazer um estudo da cidade tem seu mérito. Aliás, a influência de várias categorias teóricas da Escola de Chicago estão presentes: esta foi uma pesquisa descritiva, mas com muita informação sobre as áreas urbanas. Porém o trabalho não pode ser considerado como um estudo de comunidade, já que seu ponto central foram as áreas naturais da cidade de Guaratinguetá.

Nessa pesquisa, descrevem-se as diversas áreas como as áreas culturais da região central (comércios), da zona residencial (casas de luxo), da zona suburbana (bairros), que, por sua vez, subdividem-se em cinco zonas diferentes, todas localizadas com os nomes das ruas, assim como com informação do número de empregados nas fábricas, os comércios de pequenas lojas, sendo os donos pertencentes às minorias étnicas entre as quais existia uma "competição", como diria R. Park. (p. 73-77). Além disso, Hermann fez uma descrição das ruas e avenidas e das áreas morais, formadas pela mendicância e meretrício, na sua maioria de baixo nível econômico, com a presença de mendigos, andantes e meretrizes e sua localização em ruas e bairros.

A descrição por zonas é uma aplicação do modelo do círculo de zonas concêntricas de Burgess, de igual forma a ordem de apresentação das áreas é do centro para a periferia. Hermann descreve a zona comercial, indicando as três Guaratinguetás: a) a moderna (arquitetura nova); b) a cosmopolita (presença de minorias nacionais como italianos, sírios, espanhóis, portugueses e judeus) (p. 82); c) a heterogênea, formada por uma multiplicidade de grupos religiosos e grupos sociais e a sua mobilidade, assim como o nível econômico e relações sociais. Uma outra divisão de Hermann, consistiu nas zonas residenciais de luxo e nas de residências modestas. As primeiras seriam as residências de luxo, cujas construções, demografia, nível econômico e relações sociais ele descreve minuciosamente (p. 83-85). As segundas, consistiriam nas residências modestas, representadas por casas antigas, na sua demografia, mobilidade, cultura, profissões, lazer, política e religião (p. 85-88) As pesquisas sobre as zonas urbanas mostram dados sobre casas antigas, humildes, sobre aspectos demográficos, religiosos (casamentos, missas e igrejas), uma maior mobilidade profissional pelo fato do pouco trabalho, relações sociais de vizinhança, baixo nível cultural e segregação (p. 89-92). Finalmente, descrevem os usos e costumes. Nesse trabalho, foram aplicados testes sociológicos e entrevistas, com o objetivo de conhecer "a vida da cidade", através de comportamentos, mentalidades e crenças. A amostra foi formada por 93 indivíduos (idosos e chefes de família), 4 na região comercial, 64 indivíduos divididos em 6 nas residências de luxo , 58 nas residências modestas e 25 na área suburbana.

O questionário incluía as perguntas sobre habitação, arquitetura, família, casas alugadas ou próprias, alimentação, renda, estudo, nascimento, mobilidade profissional e política. A meu ver, um trabalho pioneiro de pesquisa urbana da cidade, com uma metodologia de trabalho de campo e uma abordagem sociológica. O artigo não apresenta a grande quantidade de material que Hermann coletou, assim como através da metodologia, verifica-se a influência evidente da Escola Sociológica de Chicago, principalmente no trato dos dados e das categorias teóricas. O trabalho de Hermann é contemporâneo ao de Pierson na Bahia, entre 1935-1937, mostrando uma influência inicial da Escola de Chicago.

Nota-se, ainda, a tentativa de semelhança entre São Paulo e Chicago, esta última como um modelo a ser imitado, principalmente quanto ao quarteirão como medida de planejamento urbano. No entanto, ficaria como uma referência. A Escola de Chicago e a cidade de Chicago foram um referencial que marcou teoricamente os primeiros trabalhos sociológicos. Apesar da influência teórica da escola, ela não foi um modelo de identidade para os sociólogos no Brasil, para formar uma escola de pensamento com essa linha teórica.

O segundo artigo foi de Araújo, em 1940,15 o qual indicou a cidade de São Paulo como um "campo de estudos de problemas étnicos" com uma variedade de grupos sociais de vários países. O hinterland paulista constituiu um centro de pesquisa inesgotável, delimitando o município da capital como zona de pesquisa (p. 229). A pesquisa de Araújo consistiu, em termos gerais, no estudo da assimilação, ou dos imigrantes na cidade de São Paulo e seus lugares de habitação ou, como ele chama, de "enquistamentos étnicos" ou áreas naturais, com a finalidade de que a pesquisa desses grupos pudesse orientar a política de imigração na cidade de São Paulo.

As questões discutidas no trabalho foram: a) o estudo do grau de interfusão das nacionalidades que formam o povo brasileiro; b) determinação dos coeficientes de homogeneidade de cada etnia no conjunto de famílias que não sofrerem processo de assimilação; c) determinação dos caracteres físicos e psicológicos resultantes das interfusões e d) pesquisas detalhadas com caráter biológico e social nos enquistamentos encontrados (p. 228).

A metodologia foi uma "observação in locu", como ele chama, da distribuição ecológica dos enquistamentos, à maneira de guetos ( p. 230). A etnografia foi definida como uma "verificação olhométrica" (p. 237), notando-se, no texto, a presença dos base map e melting pot, bem como as chamadas zonas concêntricas de Burgess. A pesquisa foi feita em três bairros, distribuídos em quarteirões dos grupos sírio, japonês e judeu e incluindo outras nacionalidades. No texto, observa-se a influência ecológica com as categorias, aclimatação, habitat e zona ecológica.

A riqueza do texto está precisamente na etnografia urbana feita por Araújo, no detalhe e descrição dos bairros , nomes de avenidas, farmácias, hotéis, restaurantes, entre-cruzamentos de ruas, comidas, livrarias, lojas, mesquitas, a língua falada como o jiddisch no bairro judeu, estatísticas por sexo, etnia nos distritos, os ramos industrias definidos por rua, e etnia e suas porcentagens. As conclusões do estudo indicavam o grau de assimilação das etnias, os casamentos entre eles e a integração cultural ao meio brasileiro, as tendências à concentração de alguns grupos de imigrantes, as tendências endogâmicas e exogâmicas dos descendentes. O artigo, apesar de curto, é representativo de pesquisas na cidade.16

Um terceiro trabalho foi de Willems, 1941,17 que começa com uma discussão da vizinhança como categoria analítica na Sociologia ou como unidade social originada pelo próprio espaço, indicando uma distância geográfica e social nas zonas ecológicas (p. 29). A vizinhança foi utilizada como uma unidade menor nas relações sociais na cidade, tal como foi proposto por Weber, categoria teórica desenvolvida posteriormente por Park, e procurada empiricamente por R. McKenzie no seu estudo da vizinhança em Columbus, Ohio.

Para Willems, existem dois grupos vicinais: a) vizinhança igualitária (coordenativa) e b) vizinhança senhorial (subordinativa), no qual o aspecto econômico é importante junto com as relações vicinais, simbiose, competição, reciprocidade, necessidades e parentesco (consangüíneo, totêmico, classificatório) (p. 31). Willems faz uma pequena comparação com grupos indígenas e fundamenta que a vizinhança pode substituir tribo ou clã, já que, na vizinhança, continuam os laços de parentesco, propriedade, religião e espaço.

Willems sugeriu chamar de vizinhança concomitante aquela em que a propriedade do espaço é reduzida e indicou que "certas pessoas são parentes por ter sido vizinhos e não vizinhos por serem parentes" (p. 32), permitindo a existência de uma interação coletiva. Contudo a vizinhança existencial seria aquela isolada na qual aconteceria uma endogamia forçada. Para Willems, a urbanização trouxe a convivência entre vizinhos, como se fossem estranhos e as relações vicinais passam para planos secundários da vida social (p. 33). Isto bem poderia ser a desorganização social proposta por Park e Thomas, de Chicago.

A segunda parte do artigo de Willems foi denominada de ensaio de inquérito sobre relações vicinais em São Paulo. Começa dizendo que as relações vicinais nas áreas metropolitanas são uma incógnita, como por exemplo: a) os moradores de bairros residenciais da alta burguesia têm um certo desprezo pelas relações vicinais, e a segregação social e a distinção social são visíveis; b) as casas de pequena e média burguesia não têm áreas internas que não permitem segregação, mantendo maiores contatos na rua e c) a habitação proletária se caracteriza pela sociabilidade e solidariedade, embora os conflitos entre vizinhos sejam mais freqüentes (p. 34, 35).

Com essas propostas tomadas como hipóteses de trabalho, Willems fez uma pesquisa ou inquérito, como ele prefere chamar, das relações vicinais em 1939 e 1940.18 A confecção do questionário teve as seguintes hipóteses de trabalho: 1) as relações vicinais variam em função da natureza do bairro; 2) as relações vicinais variam de classe social; 3) as relações vicinais variam de nacionalidade e 4) as relações vicinais conduzem à transmissão de dados culturais (p. 35). Uma outra hipótese foi a de que bairros habitados pelos componentes da mesma classe social poderiam apresentar diferenças decorrentes de fatores, como distância do centro urbano, transportes e oportunidades.

No que tange a elementos determinantes da classe social, Willems considerou a profissão do chefe da casa, o número de empregados e a circunstância de se tratar de casa própria ou alugada. A utilização de um questionário permitiu obter uma série de dados qualitativos e quantitativos valiosos. O questionário teve três seções principais: a) relações amistosas; b) relações hostis e c) indiferença. Além disso, utilizaram-se dois modelos de questionário, o modelo "A", que consistia numa família específica, e o modelo "B", as outras famílias vicinais (p. 36, 37).

A parte essencial da pesquisa tratou dos dados culturais e sua transmissão sendo que, no modelo "A", predominam as classes médias, e no modelo "B", os bairros proletários (ver questionário). No artigo de Willems aparece o modelo de questionário e, pela importância metodológica de conhecer um instrumento de coleta de dados, pensei em incluí-lo na tese, já que é, a meu ver, um documento valioso de uma técnica utilizada em 1941. A seguir, apresento o questionário do modelo "A" e do modelo "B" (nas páginas seguintes anexo os dois modelos de questionário).

Para encerrar o ensaio, Willems chama a atenção para futuras pesquisas mais bem desenvolvidas na cidade de São Paulo. Na minha opinião, este tipo de etnografias urbanas mostra uma época em que a cidade de São Paulo iniciou seu um desenvolvimento industrial e os movimentos migratórios para a cidade, a partir de 1930, formando os chamados bairros proletários. A indústria e a cidade foram parte importante do processo de urbanização de São Paulo.

O quarto trabalho, consistiu em um estudo sobre habitações feito por Pierson em 1942.19 Foi um estudo comparativo de acomodações de alojamento na cidade de São Paulo. Pierson esclarece que os dados obtidos podem ser utilizados por outras ciências tanto teóricas quanto aplicadas tais como a ecologia humana (luta pela existência), a Antropologia (tipos de moradia e costumes domésticas entre povos), a Sociologia (sistema de classes) (p. 200). A amostra foi coletada em habitações (prédios) e moradias (casas), através de dados censitários e de um questionário de 181 itens. As habitações foram definidas como: área "A" (nível inferior) e área "B" (nível superior), distribuídas em 200 habitações, 100 de cada área, com uma descrição de casas por bairro e de suas ruas. A área "A" (Bexiga, Moóca e Canindé) e área "B" (Jardim América, Pacaembu e Higienópolis) (p. 201). Os dados obtidos por Pierson (p. 203) são mostrados em 25 quadros, com um tema cada um.

O detalhe dos quadros, mostra o cuidado nos levantamentos dos dados, sendo que citei os quadros que mais especificidades mostraram. Todo este material foi tabulado, e se obtiveram freqüências e porcentagens. O resultado do trabalho de Pierson, em equipe, não apresenta muita interpretação sobre os dados. Aparecem apenas 3 quadros e colunas, que comparam as áreas superiores e inferiores, mostrando claramente o status econômico da área superior em todos os elementos e as condições mínimas da área inferior. O material ficou para ser utilizado por outras áreas de conhecimento. Do mesmo modo, Pierson não explica como foi o trabalho de campo dos entrevistadores ou de alguma pesquisa etnográfica que foi feita, mas não incluída no texto.

A quinta pesquisa, semelhante à de Willems, foi feita por Heller em 1943,20 em uma rua chamada Rua Nova, a doze quilômetros do centro da cidade de São Paulo, uma rua que começou a ser loteada para formar um bairro. Os primeiros habitantes eram portugueses e logo, alemães. Os detalhes da etnografia são ricos, como os dados sobre o tempo de viagem de bonde até a rua, o qual era de 32 minutos, e a viagem de ônibus era de 22 minutos; descreve-se também a distância da rua, em relação a algumas referências como o ponto de bonde a 380 metros, o posto policial a 50 metros, a farmácia a 800 metros, posto de telefone público a 1200 metros, consultório de um médico a 2300 metros. A rua tem 210 metros de comprimento e 16 de largura, é provida de luz elétrica em 1934, e de água em 1935, sendo que era habitada por uma pequena burguesia (p. 199, 200).

Heller não descreve a metodologia de coleta de dados, mas fez, a meu ver, uma etnografia urbana, analisou vários tópicos, todos eles com apresentação de tabelas estatísticas de freqüência, por exemplo: o status social das famílias burguesas e proletárias, preço da escola, serviços públicos (luz, ônibus e água), fatos ecológicos, luta pelo status social e espaço (competição, segundo Park), distribuição étnica e gerações. Além desses temas, pesquisou a descendência de casais, religião, casamentos, ingresso de salários, empregos familiares, índice de escolaridade e distância das casas.

Entre os temas mais particulares ou privados, Heller fez tabelas de compras e leituras de jornais das pessoas, leituras de outras áreas (poesia) e tipos de livros, tipos de enfeite nas casas, aparelhos de rádio, viagens das famílias e lugares, freqüência à igreja (católicos, protestantes, sinagoga, templo espírita), visitas de família, língua falada em casa, atividades de lazer e conflitos entre famílias. Nas suas conclusões, Heller manifestou que não conseguiu casos de uma vizinhança subordinativa, predominando os casos de vizinhança coordenativa, e cita o artigo de Willems, (1941) trabalho que mencionei em parágrafos atrás. Finalmente para Heller, "As relações não são muito influenciadas pela nacionalidade, mas sim pela posição social dos moradores e seus diferentes níveis culturais" (p. 213), isto é, o espaço, prestígio e posição econômica marcariam a diferença entre os vizinhos.

O sexto artigo foi feito por Hermann em 1944;21 segundo ela, existe um desenvolvimento ecológico da cidade de São Paulo em 490 anos, tendo como eixos centrais as suas radiais (entrada e saída da cidade) (p. 7). Hermann descreve cada uma das radiais e os nomes das ruas e seus cruzamentos, assim como os elementos agrícolas das radiais por onde passavam (p. 8), e faz o que ela chama de uma descrição ecológica do trajeto. Hermann, localiza as tendências do desenvolvimento ecológico de São Paulo (p. 8), através de: a) localizar nos mapas topográficos o trajeto das radias sul (caminho do mar) e a radial oeste (caminho do café); b)a direção do mar para o café (sul-oeste), indicando uma lista de avenidas e ruas, como a Augusta, Av. Europa, Av. Cidade Jardim rumo Pinheiros, Consolação, Av. Rebouças, etc. Segundo Hermann (p. 11), o desenvolvimento da cidade não se processou uniformemente, mas, ao contrário, espalhou-se muito irregularmente até os subúrbios.

Hermann sugere que o crescimento urbano de São Paulo, se deve a suas avenidas ecológicas de depressões geográficas que provocou um movimento urbano e construção de moradias públicas (p. 13). Ela mostra através de tabelas os preços das habitações em 1926, as áreas mais caras como a Av. São João e Av. Anhanguera. Em uma das tabelas (p. 16, 17), se mostra que entre 1911-1913 e 1926-1928, houve um investimento maior nas radiais aumentando o preço do aluguel nas principais avenidas. Toma como exemplo as áreas ecológicas na radial de São João Lapa mostrando os mudanças das área que são heterogêneas (p. 19-24), a distância desigual de índices ecológicos, surtos de valorização entre 1900-1940, a localização das áreas (aparência dos prédios), distribuição dos prédios, casas de luxo, casas em deterioro e parques industriais (p. 24-28).

Hermann, apresenta o que ela chamou de caraterísticas sociológicas das áreas ecológicas de São Paulo (p. 28-38). Trabalhando a distribuição demográfica, o centro econômico, político-administrativo, e a descrição de duas áreas e duas zonas, que a meu ver correspondem novamente ao modelo de zonas de Burges, vejamos: a) áreas de transição e deterioração social (final da Av. São João) (p. 31, 32) que seria a zona moral de Park, é neste ponto que a meu ver.

Hermann fez uma etnografia urbana, pois descreveu as relações morais e sociais, relações sociais, ocupações, zonas de meretrício, constante mobilidade social, e independência de locomoção. Esta área [a] foi considerada como uma área de segregação e vícios, onde a presença da polícia era constante; [b] área de residências modestas, habitada por uma classe média burguesa, como funcionários públicos, e onde existe um controle social por grupos religiosos, principalmente católicos, censura, família e um alto índice de proprietários de casas, c) zona de residências de luxo, formada pela alta burguesia (p. 36-38). Aí se teria um cosmopolitismo de um grupo de industriais, fortes capitais e uma mobilidade para o exterior. Hermann explica que muitas áreas que eram de luxo, no centro da cidade, por causa do movimento do comércio passaram a ser áreas de casas modestas, ou as casas foram para fora da cidade; d) as zonas suburbanas (p. 36-38) formadas por cidades satélites próximas a fábricas localizadas na periferia da cidade. Encontraremos aí um número de serviços públicos, comerciantes, laços de vizinhança, cooperação, menos educação e ocupações comerciais.

A pesquisa de Hermann abrange vários aspectos, um deles foi o planejamento ecológico urbano na cidade de São Paulo nos anos 30 e 40, assim como a descrição das áreas e zonas de habitações tanto no centro quanto na periferia. Hermann conseguiu combinar análises gerais com análises particulares. Lamentavelmente a parte de pesquisa etnográfica qualitativa não está presente no texto. Além disso, a perspectiva de estudo lembra o referencial da Escola de Chicago, como por exemplo, a distribuição por zonas, tal como propôs Burgess.

A sétima pesquisa que refiro foi feita por Xidieh, em 1947,22 em um subúrbio paulista no município de Mogi das Cruzes, pesquisando uma igreja e a história de vida de um pastor, o Sr. Narciso. O artigo começa descrevendo as áreas ecológicas da população suburbana como comércios, estradas, ruas, vilas proletárias, casas comerciais e a construção de bangalôs (que seria o equivalente à zona V de commuters proposto por Burgess). Xidieh (p. 174, 175) mencionou o homem suburbano e sua condição de marginal (podendo referir-se ao homem marginal de Park e de Stonequist). Xidieh escreveu sobre o inconsciente, a luta pela vida, comportamento individualista, ressentimento e crime, sobre uma espécie de desorganização social, como diria Thomas, ou competição, segundo Park.

Do mesmo modo que Willems e Heller, Xidieh não descreveu a metodologia que utilizou para a coleta dos dados, apesar de que mencione as fichas de entrevista com delinqüentes e moços criminosos, mas não as utilize neste artigo. No entanto, ele usa técnica de história de vida como é mostrado na trajetória do Sr. Narciso, um homem que, em 1938, converte-se em pastor de uma igreja chamada Igreja Triunfante ou Católica Evangélica Militante. Xidieh descreveu em poucas linhas como se desenvolveu uma cerimônia dessa igreja em São Paulo, já que Narciso viajava para fazer os cultos. O curto artigo de Xidieh é bastante descritivo, mais do que interpretativo, contudo permite reconhecer as categorias analíticas tomadas dos trabalhos da Escola de Chicago.

Finalmente o oitavo trabalho desenvolvido por Nogueira em 194923 trata de um estudo sobre habitações de operários em São Paulo. Segundo Nogueira, a habitação não só é um elemento de conforto, mas pode também refletir o nível de aspirações dos moradores, os quais se estimulam ou se deprimem. A casa pressupõe aspectos culturais, sociais ou hábitos de vida, atividades e valores (p. 32). A urbanização no mundo todo tem modificado a concepção de casa na cidade. Para Nogueira (p. 33), nas cidades, a localização das casas está em relação com os locais de trabalho e com certas instituições como escolas, igrejas, centros de recreação, etc.

O objetivo do trabalho era estudar determinado ramo industrial (indústria têxtil), procurando-se o número de operários e estabelecimentos. Os operários eram paulistanos, e seus lugares de moradia, próximos das fábricas. Foram entrevistados 65 estabelecimentos localizados no leste de São Paulo, na radial norte-sul (p. 35). Dos 65 lugares, foram escolhidos 3 (Ipiranga, Hipódromo, Belenzinho), com 200 operários. Eles foram organizados por Nogueira em 100 lugares de habitação que ficassem a mais de 4000 mts. de distancia da fábrica, e outros 100 lugares que estivessem a menos de 4000 até 1000 mts. A finalidade era demonstrar que a mobilidade social dependia dos lugares de habitação e da proximidade do trabalho (p. 36). As entrevistas com os operários foram feitas por uma equipe, que observou o meio e a moradia localizada em uma área dos operários. Os resultados da pesquisa foram apresentados através de quadros (p. 37-44).

Nogueira detectou o problema de que o tempo de permanência na casa era determinado pelo emprego, isto é, os operários próximos, com casa própria, tinham maior tempo de emprego, enquanto os operários distantes alugavam e possuíam menor tempo de trabalho. Nogueira conclui que: a) existia uma importância da casa própria como fato de estabilidade no emprego, e b) aumento de alugueis de casa levava à mobilidade espacial do emprego (p. 44). Neste sentido, o trabalho de Nogueira foi pioneiro no estudo da habitação dos grupos operários e foi um trabalho quantitativo bem estruturado, com uma seleção das fábricas e dos lugares de moradia, isto é, o que, em Chicago, chamava-se de Base Map, na localização em termos gerais do objeto de estudo em relação à cidade

Para concluir, as oito etnografias urbanas feitas na cidade de São Paulo foram trabalhos fragmentados que não forneceram uma continuidade como temas e interesses em uma agenda de pesquisa. Mas permitiram observar a influência de Chicago nos anos 40, principalmente com Pierson em São Paulo, e que continuou na década de 50. Do mesmo modo, resgatar a existência de um corpo de pesquisas urbanas como antecedentes do campo intelectual permite conhecer os antecedentes dos estudos urbanos no Brasil.

Com relação à influência de Chicago, que esteve presente neste período de tempo inicial, esta voltaria ao Brasil, na década de 70, com o interacionismo simbólico. A ausência de Chicago nos anos 50 e 60 obedece a mudanças teóricas e históricas que mudaram os interesses de pesquisa, entre eles o problema urbano, o desenvolvimento, a influência do marxismo e o crescimento e fundação de instituições dedicadas a este aspecto como aconteceu nessas décadas, sendo este um tema para outro artigo.

Conclusões

Neste artigo fiz uma breve trajetória da Escola de Chicago como uma forte influência nas pesquisas urbanas no Brasil, tendo sido Donald Pierson, o principal transmissor da Escola de Chicago em São Paulo, formando duas gerações de pesquisadores que continuaram com influência no Brasil, ressaltando-se Orací Nogueira como um dos principais discípulos em São Paulo.

Os estudos precursores da cidade, feitos nos anos 40-50, são um antecedente direto do campo de pesquisas urbanas, as quais resgatei para demonstrar sua importância, e para que fossem integradas à história da pesquisa urbana no Brasil, ressaltando ainda mais o seu pioneirismo na procura do sujeito urbano na cidade. Estes anos foram o período em que a Escola Sociológica de Chicago teve influência sobre as pesquisas, como demonstrei na análise de oito trabalhos (1935-1950), principalmente no uso do modelo de zonas concêntricas de E. Burgess. Os trabalhos de L. Hermann, O. Araújo, E. Willems, D. Pierson, F. Heller, O. Xidieh e O. Nogueira, fizeram uma pesquisa detalhada de vizinhança, bairros, radiais, habitações, operários e ruas, sendo que mereciam ser resgatados do esquecimento.

Os oito trabalhos sobre a cidade de São Paulo, não os considero propriamente como estudos de Sociologia Urbana, mas como antecedentes, já que não existia uma agenda institucional de pesquisa. Foram tentativas de aproximação ao estudo da cidade e do sujeito social habitante dela, pois, apesar dos esforços isolados não institucionalizados, a cidade não era ainda compreendida como objeto de estudo significativo. A Escola de Chicago foi a primeira escola a exercer influência sobre estas pesquisas urbanas. De uma perspectiva ecológica em certos momentos, e em outros, como uma Sociologia Urbana, combinando várias teorias e autores, principalmente europeus, essa Escola influiu em trabalhos no Brasil, tais como os de relações raciais (negros, brancos e imigrantes), como os das categorias de aculturação e assimilação, os estudos de comunidade que tiveram uma grande importância no Brasil e outros países do mundo, com uma preocupação nas migrações campo-cidade, principalmente em três campos: a) no das relações raciais, b) no dos clássicos estudos de comunidade e c) nos estudos precursores na cidade de São Paulo em que centrei a minha atenção.

Fonte:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222005000200015&nrm=iso&tlng=pt

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